segunda-feira, 28 de abril de 2008

A Reforma Religiosa

Podemos definir a Reforma Religiosa como o movimento que rompeu a unidade religiosa da Europa ocidental, dando origem a novas igrejas cristãs. Com ela a Igreja Católica perdeu o monopólio religioso que mantivera durante a Idade Média.

A Reforma Religiosa foi contemporânea do Renascimento, e também pode ser explicada pelas transformações econômicas e sociais ocorridas na Europa na transição da Idade Média para os tempos modernos.

Todavia, enquanto o Renascimento foi um movimento de elite, a Reforma envolveu todas as camadas sociais européias.

Fatores que Explicam a Reforma

Os fatores que explicam a Reforma Religiosa são de ordem cultural, econômica e política.

a- Cultural. O racionalismo e a valorização do homem, próprios do Renascimento, deram origem a uma mentalidade que se opunha a religiosidade católica medieval. O espírito crítico do Renascimento colocou em xeque os tradicionais ensinamentos da Igreja.

A divulgação e a leitura dos textos bíblicos, dos escritos dos sábios da antiguidade e dos santos da Igreja criaram um clima de debate e questionamento das verdades estabelecidas. Tanto que os primeiros movimentos que questionaram a autoridade da Igreja surgiram no interior das Universidades. O homem renascentista exigia uma religião mais adequada aos novos tempos.

b- Econômico. O renascimento comercial criou uma nova realidade econômica na Europa. A Igreja teve dificuldade em adequar os seus ensinamentos a essa nova realidade. Os dogmas católicos tradicionais combinavam com a economia de subsistência da Idade Média. No entanto, o lucro e a cobrança de juros, estranhos a essa economia, passaram a ser essenciais depois do renas­cimento comercial.

De modo que a burguesia tendia a não aceitar aqueles dogmas religiosos.

c- Político. Como vimos em capítulo anterior, o poder nacional do rei, surgido com a centralização política, se contrapunha ao poder supranacional da Igreja. Os conflitos entre os interesses das monarquias nacionais e os de Roma se manifestavam nos direitos de cobrar impostos, na administração da justiça e na nomeação dos bispos. Os reis não podiam admitir que as rendas obtidas pela Igre­ja em seus domínios fossem enviadas para Roma. Por outro lado, precisavam im­por sua justiça em todo o território nacional, e isto significava a supressão dos tribunais eclesiásticos.

Além disso, os reis disputavam com os papas o direito de nomear os bispos, pois estes tinham um grande poder político.

Portanto, o rompimento dos Estados Nacionais com a Igreja Católica, foi uma decorrência natural desses conflitos de interesses.

Foram ainda fatores importantes para a Reforma a crise e a decadência da Igreja Católica. O luxo do clero, a compra de cargos eclesiásticos, o envolvimento da Igreja nas questões políticas, a má formação teológica dos padres, a venda de indulgências (perdão da Igreja aos pecados) e de falsas relíquias religiosas contribuíam para o desprestígio da instituição diante dos fiéis

Antecedentes da Reforma - As Heresias

A Igreja Católica considerava como herética toda e qualquer manifestação religiosa (ou não) que não estivesse conforme a sua doutrina e submetida a sua autoridade.

Uma das heresias que floresceram durante a Baixa Idade Média foi a de John Wycliffe (1320-1384), professor de Oxford (Inglaterra). Ele achava que a Igreja deveria ser subordinada ao Estado. Não admitia a veneração de imagens, nem a confissão e o perdão que a Igreja dava aos pecados. A salvação dos homens era uma questão direta entre estes e Deus. Estes ensinamentos foram suficientes para trans­formar Wycliffe em um herético.

Também em Praga, na Boêmia, Jan Huss (1369-1415), reitor da universida­de local, atacou os abusos da Igreja e defendeu princípios semelhantes aos deWycliffe. Sua influência foi tão grande que o papa decidiu pela sua excomunhão. Huss foi queimado por heresia.

Wycliffe e Huss foram precursores do movimento reformista do século XVI.

Muitas revoltas populares tiveram inspiração religiosa. Os ensinamentos de Wycliffe inspiraram propostas radicais, como as do monge John Baíl. Elas acaba­ram desencadeando uma revolta camponesa liderada por Watt Tyler (1381).

Por meio de uma nova interpretação do cristianismo, tentava-se também criar formas alternativas de organização social. Este foi o caso dos cátaros (albigenses) e dos valdenses, movimentos heréticos aniquilados com extrema violência pela Igreja.

A Reforma Luterana

Martinho Lutero (1483-1546), era um monge agostiniano alemão de sagaz inteligência e estudioso da bíblia. Com base nos seus estudos começou a criticar os abusos da Igreja. Depois de uma viagem à Roma voltou abalado com o luxo, a decadência de costumes e a corrupção do alto clero.

O conflito de Lutero com a Igreja começou com suas críticas à venda de indulgências na Alemanha. Lutero criticou não só o fato de serem vendidas, mas o próprio valor espiritual dessas indulgências. Segundo ele, a Igreja não tinha o poder de conceder perdão aos pecados. Isto só caberia a Deus.

A polêmica acabou levando à excomunhão de Lutero. O monge rebelde rasgou a bula da excomunhão e afixou na porta da catedral de Wittemberg as famosas 95 teses. Neste documento estão presentes as linhas mestras de sua doutrina.

Basicamente, a doutrina luterana divergia do catolicismo nos seguintes pontos:

a- Livre-exame. O crente teria direito de ler a bíblia e tirar suas próprias conclusões. Desta forma, Lutero negava à Igreja o direito de ser a intérprete da palavra divina.

b- Salvação pela fé. Com base em São Paulo, Lutero afirmava que o homem está destinado a pecar. Para São Paulo o homem não é capaz de fazer o bem que quer mas faz o mal que não quer. Assim não se salvará pelas obras, mas sim pelo arrependimento e pela fé.

c- Condenação do celibato. Para Lutero não havia fundamento bíblico para o celibato do clero. Sendo assim, os ministros da Igreja deveriam se casar.

d- Condenação da veneração ou culto aos santos. A veneração e culto deve­riam ser prestados somente a Deus. As imagens que enchiam as Igrejas católicas eram vistas por Lutero como pura idolatria.

e- Negação do dogma da transubstanciação. O vinho e o pão não se trans­formariam no sangue e no corpo de Cristo. A comunhão seria apenas uma reafirmação da fé na ressurreição de Cristo e na sua promessa de resgatar os pecados.

f- Negação da infalibilidade papal. Para Lutero os papas estavam sujeitos ao erro como qualquer ser humano.

Um dos fatores principais da vitória da Reforma Luterana foi o apoio que o ex-monge recebeu dos nobres alemães. Como a Igreja era a maior proprietária de terras na Alemanha, os príncipes viram no conflito religioso uma oportunidade de se apossarem destas terras.

Os camponeses alemães, oprimidos pela miséria, viram na pregação reformista uma esperança para seus males. Eles também queriam as terras eclesiásticas. Todavia, Lutero não endossou as pretensões camponesas, pois estava identificado com os interesses da nobreza.

O reformador que apoiou e liderou as revoltas camponesas foi Tomas Mtinzer, o teólogo da revolução. Segundo Miinzer, o reino de Deus deveria ser implantado neste mundo. O conflito entre nobres e camponeses deu origem a uma guerra civil na Alemanha. Os camponeses foram massacrados pelos nobres, em 1523, com ple­no apoio de Lutero.

Na época, o Sacro Império Germânico era composto por vários estados semi-independentes. A rebeldia e a ambição dos príncipes alemães ameaçava mais ainda a pouca autoridade do imperador. Dessa forma, o imperador condenou a Reforma e apoiou a Igreja. A oposição entre o Imperador (apoiado pela Igreja) e os nobres alemães (apoiados por Lutero), resultou em uma prolongada guerra político-religiosa. Depois dessa guerra, a Alemanha ficou dividida em estados católicos e luteranos.

Uma das características do luteranismo, certamente em virtude da vinculação entre Lutero e os príncipes alemães, é a defesa da união Estado-Igreja. A Igreja Luterana já nasceu vinculada ao Estado.

A Reforma Calvinista

João Calvino (1509-1564), francês e seguidor das idéias luteranas, se estabeleceu em Genebra (Suíça), onde escreveu As Instituições Cristãs. Nessa cidade começou a pregar a sua doutrina, que tinha muitos pontos em comum com o luteranismo. A diferença mais importante se refere à doutrina da salvação. Para Lutero, como vimos, a salvação se dá pela fé e para Calvino pela pré-destinação. Baseando-se em Santo Agostinho, Calvino diz que nós viemos ao mundo pré-destinados por Deus a sermos salvos ou condenados. Desta forma, a nossa salvação não depende da fé e nem das boas obras, mas sim da escolha divina.

Os sinais da escolha divina se manifestariam na vida dos indivíduos. O trabalho, a pureza de costumes, o cumprimento dos deveres para com a sociedade e a família seriam alguns desses sinais. Esse cidadão teria também a sua vida abençoa­da por Deus, resultando no progresso econômico.

O estudioso alemão Max Weber, na obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, mostrou a relação existente entre o calvinismo e o desenvolvimento do capitalismo. Segundo esse autor, o calvinismo favorece a acumulação capitalista, prescrevendo uma vida dedicada ao trabalho e à poupança.

Coincidência ou não, os países do norte da Europa, onde o capitalismo mais se desenvolveu, localizam-se exatamente nas áreas onde a reforma calvinista mais se implantou.

A Expansão do Calvinismo

A partir da Suíça, os pregadores calvinistas conseguiram difundir sua dou­trina em várias partes da Europa. Na Inglaterra os calvinistas ficaram conhecidos como puritanos. Foram perseguidos e imigraram em grande número para a América. Na Escócia, ficaram conhecidos como presbiterianos, e na França como huguenotes.

A burguesia encontrou no calvinismo a doutrina adequada à seus interesses e ao seu modo de vida. Incompatibilizada com o princípio católico do justo preço e da proibição da usura, a burguesia abraçou a nova doutrina.

A Reforma Anglicana

De todos os movimentos reformistas, a Reforma Anglicana foi a que mais claramente revelou motivos políticos. Ela teve origem no conflito entre o rei Henrique VIII (1509-1547) da Inglaterra e o papa Clemente VII, que não concordou em conceder ao rei o divórcio de sua primeira esposa, Catarina de Aragão.

Esse conflito, aparentemente simples, escondia divergências mais profundas. Vimos que a centralização política opunha os monarcas nacionais à Igreja. Além disso, Henrique VIII pretendia confiscar as terras da Igreja em solo inglês. A questão do divórcio serviu como pretexto para o rompimento definitivo. Por meio do Ato de Supremacia, Henrique VIII tornou-se o chefe da Igreja inglesa. Os membros do clero inglês tiveram que jurar fidelidade ao rei e romper com o papa. Os que se recusaram, foram destituídos e perseguidos. As terras confiscadas da Igreja foram vendidas à nobreza inglesa, que, desta forma, se tornou fiel partidária da Igreja Anglicana.

Como se pode perceber, esta reforma não se deu por motivos doutrinários e sim claramente políticos. Por isso, inicialmente, a religião anglicana pouco diferia da católica. Se diferenciava apenas pelo uso do inglês em lugar do latim e pela obediência ao rei e não ao papa. Mais tarde, sofreu algumas mudanças introduzidas pela rainha Isabel 1, filha de Henrique VIII.

A Contra-Reforma

Podemos definir a Contra-Reforma como o conjunto de medidas tomadas pela Igreja Católica para deter o avanço das igrejas reformadas.

A principal providência tomada foi a convocação do Concílio de Trento (1545-1563). Neste Concílio foram reafirmados os dogmas e os princípios católicos nega­dos pelos reformadores. Foram criados o Index Librorum Prohibitorum (relação de livros proibidos); o Catecismo, para dar educação religiosa, principalmente às crianças, e Seminários, para formar melhor o clero. O Tribunal do Santo Ofício (Inquisição) foi remodelado e reativado para perseguir os que se desviassem dos princípios católicos. A Contra-Reforma reafirmava ainda que só à Igreja era permitida a interpretação da bíblia.

Nesta época, a ordem religiosa fundada por Inácio de Loiola, Companhia de Jesus, foi reconhecida pela Igreja. Esta ordem teria importante papel da difusão do catolicismo na América. Os jesuítas, submetidos a uma rigorosa disciplina, se dedicavam à educação e à catequese.

A Contra-Reforma conseguiu afastar a ameaça reformista do sul da Europa. Até hoje, Itália, Espanha e Portugal são países essencialmente católicos. Mas, mui­tos estudiosos atribuem o relativo atraso cultural e científico dos países católicos à atuação repressiva da Igreja.

O Renascimento Cultural


Como já sabemos anteriomente que a intensificação do comércio e da produção artesanal resultou no desenvolvimento das cidades, no surgimento de uma nova classe social a burguesia e na posterior formação das monarquias nacionais. Estas transformações vieram acompanhadas de uma nova visão de mundo, que se manifestou na arte e na cultura de maneira de geral.

A cultura medieval se caracterizava pela religiosidade. A Igreja Católica, como vimos, controlava as manifestações culturais e dava uma interpretação religiosa para os fenômenos da natureza, da sociedade e da economia. A esta cultura deu-se o nome de teocêntrica (Deus no centro). A miséria, as tempestades, as pragas, as enchentes, as doenças e as más colheitas eram vistas como castigos de Deus. Assim como a riqueza, a saúde, as boas colheitas, o tempo bom, a fortuna eram bênçãos divinas. A própria posição que o indivíduo ocupava na sociedade (nobre, clérigo ou servo) tinha uma explicação religiosa.

A arte medieval, feita normalmente no interior das Igrejas, espelhava esta mentalidade. Pinturas e esculturas não tinham preocupações estéticas e sim pedagógicas: mostrar a miséria do mundo e a grandiosidade de Deus. As figuras eram rústicas, desproporcionais e acanhadas. Os quadros não tinham perspectiva. Como as obras de arte eram de autoria coletiva, o artista medieval é anônimo.

A literatura medieval era composta de textos teológicos, biografias de santos e histórias de cavalaria. Isto refletia o domínio da Igreja e da nobreza sobre a sociedade.

Essa visão de mundo não combinava com a experiência burguesa. Essa nova classe devia a sua posição social e econômica ao seu próprio esforço e não à vontade divina, como o nobre. O sucesso nos negócios dependia da observação, do raciocínio e do cálculo. Características que se opunham às explicações sobrenaturais, próprias da mentalidade medieval. Por outro lado, era uma classe social em ascensão, portanto otimista. Sua concepção de mundo era mais materialista. Queria usufruir na terra o resultado de seus esforços. E também claro que o comerciante burguês era essencialmente individualista. Quase sempre, o seu lucro implicava que outros tivessem prejuízo.

A visão de mundo da burguesia estará sintonizada com a renovação cultural ocorrida nos fins da Idade Média e no começo da Idade Moderna. A essa renovação denominamos Renascimento.

Características do Renascimento Cultural

O Renascimento significou uma nova arte, o advento do pensamento científico e uma nova literatura. Nelas estão presentes as seguintes características:

a- antropocentrismo (o homem no centro): valorização do homem como ser racional. Para os renascentistas o homem era visto como a mais bela e perfeita obra da natureza. Tem capacidade criadora e pode explicar os fenômenos à sua volta.

b- otimismo: os renascentistas acreditavam no progresso e na capacidade do homem de resolver problemas. Por essa razão apreciavam a beleza do mundo e tentavam captá-la em suas obras de arte.

c- racionalismo: tentativa de descobrir pela observação e pela experiência as leis que governam o mundo. A razão humana é a base do conhecimento. Isto se contrapunha ao conhecimento baseado na autoridade, na tradição e na inspiração de origem divina que marcou a cultura medieval.

d- humanismo: o humanista era o indivíduo que traduzia e estudava os textos antigos, principalmente gregos e romanos. Foi dessa inspiração clássica que nasceu a valorização do ser humano. Uma das características desses humanistas era a não especialização. Seus conhecimentos eram abrangentes.

e- hedonismo: valorização dos prazeres sensoriais. Esta visão se opunha à idéia medieval de associar o pecado aos bens e prazeres materiais.

f- individualismo: a afirmação do artista como criador individual da obra de arte se deu no Renascimento. O artista renascentista assinava suas obras, tomando­se famoso.

g- inspiração na antiguidade clássica: os artistas renascentistas procuraram imitar a estética dos antigos gregos e romanos. O próprio termo Renascimento foi cunhado pelos contemporâneos do movimento, que pretendiam estar fazendo re­nascer aquela cultura, desaparecida durante a “Idade das Trevas” (Média).

Itália: o Berço do Renascimento

O Renascimento teve início e atingiu o seu maior brilho na Itália. Daí irradiou-se para outras partes da Europa. O pioneirismo italiano se explica por diversos fatores:

a- a vida urbana e as atividades comerciais, mesmo durante a Idade Média, sempre foram mais intensas na Itália do que no resto da Europa. Como vimos, o Renascimento está ligado à vida urbana e à burguesia. Basta lembrar que Veneza e Gênova foram duas importantes cidades portuárias italianas, ambas com uma pode­rosa classe de ricos mercadores.

b- a Itália foi o centro do Império Romano e por isso tinha mais presente a memória da cultura clássica. Como vimos, o Renascimento inspirou-se na cultura greco-romana.

c- o contato com árabes e bizantinos, por meio do comércio, deu condições para que os italianos tivessem acesso às obras clássicas preservadas por esses povos. Quando Constantinopla foi conquistada pelos turcos, em 1453, vários sábios bizantinos fugiram para Itália levando manuscritos e obras de arte.

d- O grande acúmulo de riquezas obtidas no comércio com o Oriente, formou uma poderosa classe de ricos mercadores, banqueiros e poderosos senhores. Esse grupo representava um mercado para as obras de arte, estimulando a produção intelectual. Muitos pensadores, pintores, escultores e arquitetos se tomaram protegidos dessa poderosa classe. À essa prática de proteger artistas e pensadores deu-se o nome de mecenato. Entre os principais mecenas podermos destacar os papas Alexandre II, Júlio II e Leão X. Também ricos merca­dores e políticos foram importantes mecenas, como, por exemplo, a família Médici.

Já no século XIV (Trecento) surgiram as primeiras figuras do Renascimento, como, por exemplo, Giotto (na pintura), Dante Allighieri, Boccaccio e Francesco Petrarca (na literatura). No século XV (Quatrocento) a produção cultural atingiu uma grande intensidade. Mas foi no século XVI (Cinquecento) que o Renascimento atingiu o auge.

A Decadência do Renascimento Italiano

A decadência do Renascimento italiano pode ser explicada por diversos fatores. As lutas políticas internas entre as diversas cidadés-Estado e a intervenção das potências políticas da época (França, Espanha e Sacro Império Germânico), consumiram as riquezas da Itália.

Ao mesmo tempo, o comércio das cidades italianas entrou em franca decadência depois que a Espanha e Portugal passaram a liderar, através da rota do Atlântico, o comércio com o Oriente.

O Renascimento em outras parte da Europa

O renascimento comercial e urbano ocorreu em várias partes da Europa. Desta forma, criaram-se as condições para a renovação cultural, assim como ocorreu na Itália.

Nos Países Baixos, uma classe de ricos comerciantes e banqueiros estava ligada ao consumo e à produção de obras de arte e literatura. Um dos grandes pinto­res flamengos foi Brueghel, que viveu em Antuérpia. Ele pintou, principalmente, cenas da vida cotidiana, retratando o estilo de vida da classe burguesa em ascensão (A Dança do Casamento, de 1565). Destacaram-se ainda os irmãos pintores Hubert e Jan van Eyck (A Virgem e o Chanceler Rolin).

A crítica à intolerância do pensamento religioso medieval foi feita por Erasmo de Roterdan (1466-1529) com sua obra Elogio da Loucura.

Na França, o Renascimento teve importantes expoentes:

a- na literatura e filosofia, Rabelais (1490-1 553), autor de Gargantua e Pantagruel, obra na qual critica a educação e as táticas militares medievais. Montaigne (1533-1592), autor de estudos filosóficos céticos intitulados Ensaios, nos quais o principal objeto de crítica é o clero.

b- nas ciências, Ambroise Pare (1517-1590) destacou-se com estudos de medicina. Inventou uma nova técnica para sutura das veias.

Na Espanha, a forte influência da Igreja Católica e o clima repressivo da Contra-Reforma, dificultaram as inovações. Desta forma, as realizações culturais marcadamente renascentistas foram reduzidas.

Nas artes plásticas destacou-se El Greco (1575-1614), o grande pintor espanhol do Renascimento (O Enterro do Conde de Orgaz e A Visão Apocalíptica).

Na literatura, a Espanha produziu um dos maiores clássicos da humanidade. Trata-se de D. Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, obra na qual o personagem principal (D.Quixote) é um cavaleiro romântico que imagina estar vi­vendo em plena Idade Média. A metáfora é referente à decadência da cavalaria e ao conflito entre a mentalidade moderna e a medieval.

Na ciência, a Espanha contribuiu com Miguel de Servet, que se destacou pelo seus estudos da circulação do sangue.

Na Inglaterra, um dos principais expoentes do Renascimento foi Tomas Morus (1475-1535), autor de Utopia, obra que descreve as condições de vida da população de uma ilha imaginária, onde não havia classes sociais, pobreza e propriedade privada.

É também inglês o maior dramaturgo de todos os tempos, William Sheakspeare (1564-1616). Foi sob o reinado de Isabel 1 que Sheakspeare produziu a maioria de suas obras, dentre as quais destacam-se Hamlet, Ricardo III, Macbeth, Otelo e Romeu e Julieta.

Destaca-se ainda no Renascimento inglês, o filósofo Francis Bacon (1561-1626), autor de Novun Organun. Esse autor pode ser considerado um dos precurso­es do Iluminismo (ver capítulo 9).

Em Portugal, o grande representante do renascimento literário foi Luís Vaz de Camões (1525-1580), autor de Os Lusíadas, poema épico que narra os grandes feitos da navegação portuguesa.

O teatro português renascentista foi imortalizado por Gil Vicente, autor das obras Trilogia das Barcas e a Farsa de Inês Pereira.

Na Alemanha, a pintura renascentista consagrou os nomes de Hans Holbein (1497-1553) e Albert Durer (1471-1528).

Podemos destacar ainda, como representantes do Renascimento científico, o monge polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), que formulou, antes de Galileu, a teoria heliocêntrica (sol no centro do sistema planetário); e Kepler (1571-1630), inventor do telescópio e estudioso das leis da mecânica celeste. Demonstrou que a órbita que os planetas descrevem em torno do sol é elíptica.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Resumo de Império Romano

História de Roma Antiga e o Império Romano
República Romana, expansionismo da Roma Antiga, crise na República , Império Romano
Guerras Púnicas, gladiadores, decadência do Império Romano, mitologia romana

Introdução
A história de Roma Antiga é fascinante em função da cultura desenvolvida e dos avanços conseguidos por esta civilização. De uma pequena cidade, tornou-se um dos maiores impérios da antiguidade. Dos romanos, herdamos uma série de características culturais. O direito romano, até os dias de hoje está presente na cultura ocidental, assim como o latim, que deu origem a língua portuguesa, francesa, italiana e espanhola.

Origem de Roma : explicação mitológica
Os romanos explicavam a origem de sua cidade através do mito de Rômulo e Remo. Segundo a mitologia romana, os gêmeos foram jogados no rio Tibre, na Itália. Resgatados por uma loba, que os amamentou, foram criados posteriormente por um casal de pastores. Adultos, retornam a cidade natal de Alba Longa e ganham terras para fundar uma nova cidade que seria Roma.
Origens de Roma : explicação histórica e Monarquia Romana (753 a.C a 509 a.C)
De acordo com os historiadores, a fundação de Roma resulta da mistura de três povos que foram habitar a região da península itálica : gregos, etruscos e italiotas. Desenvolveram na região uma economia baseada na agricultura e nas atividades pastoris. A sociedade, nesta época, era formada por patrícios ( nobres proprietários de terras ) e plebeus ( comerciantes, artesãos e pequenos proprietários ). O sistema político era a monarquia, já que a cidade era governada por um rei de origem patrícia.
A religião neste período era politeísta, adotando deuses semelhantes aos dos gregos, porém com nomes diferentes. Nas artes destacava-se a pintura de afrescos, murais decorativos e esculturas com influências gregas.

República Romana (509 a.C. a 27 a.C)
Durante o período republicano, o senado Romano ganhou grande poder político. Os senadores, de origem patrícia, cuidavam das finanças públicas, da administração e da política externa. As atividades executivas eram exercidas pelos cônsules e pelos tribunos da plebe.
A criação dos tribunos da plebe está ligada às lutas dos plebeus por uma maior participação política e melhores condições de vida.
Em 367 a.C, foi aprovada a Lei Licínia, que garantia a participação dos plebeus no Consulado (dois cônsules eram eleitos: um patrício e um plebeu). Esta lei também acabou com a escravidão por dívidas (válida somente para cidadãos romanos).

Formação e Expansão do Império Romano
Após dominar toda a península itálica, os romanos partiram para as conquistas de outros territórios. Com um exército bem preparado e muitos recursos, venceram os cartagineses nas Guerras Púnicas (século III a.C). Esta vitória foi muito importante, pois garantiu a supremacia romana no Mar Mediterrâneo. Os romanos passaram a chamar o Mediterrâneo de Mare Nostrum.
Após dominar Cartago, Roma ampliou suas conquistas, dominando a Grécia, o Egito, a Macedônia, a Gália, a Germânia, a Trácia, a Síria e a Palestina.
Com as conquistas, a vida e a estrutura de Roma passaram por significativas mudanças. O império romano passou a ser muito mais comercial do que agrário. Povos conquistados foram escravizados ou passaram a pagar impostos para o império. As províncias (regiões controladas por Roma) renderam grandes recursos para Roma. A capital do Império Romano enriqueceu e a vida dos romanos mudou.
Principais imperadores romanos : Augusto (27 a.C. - 14 d.C), Tibério (14-37), Caligula (37-41), Nero (54-68), Marco Aurelio (161-180), Comodus (180-192).

Pão e Circo
Com o crescimento urbano vieram também os problemas sociais para Roma. A escravidão gerou muito desemprego na zona rural, pois muitos camponeses perderam seus empregos. Esta massa de desempregados migrou para as cidades romanas em busca de empregos e melhores condições de vida. Receoso de que pudesse acontecer alguma revolta de desempregados, o imperador criou a política do Pão e Circo. Esta consistia em oferecer aos romanos alimentação e diversão. Quase todos os dias ocorriam lutas de gladiadores nos estádios ( o mais famoso foi o Coliseu de Roma ), onde eram distribuídos alimentos. Desta forma, a população carente acabava esquecendo os problemas da vida, diminuindo as chances de revolta.

Cultura Romana
A cultura romana foi muito influenciada pela cultura grega. Os romanos "copiaram" muitos aspectos da arte, pintura e arquitetura grega.
Os balneários romanos espalharam-se pelas grandes cidades. Eram locais onde os senadores e membros da aristocracia romana iam para discutirem política e ampliar seus relacionamentos pessoais.
A língua romana era o latim, que depois de um tempo espalhou-se pelos quatro cantos do império, dando origem na Idade Média, ao português, francês, italiano e espanhol.
A mitologia romana representava formas de explicação da realidade que os romanos não conseguiam explicar de forma científica. Trata também da origem de seu povo e da cidade que deu origem ao império. Entre os principais mitos romanos, podemos destacar: Rômulo e Remo e O rapto de Proserpina.

Religião Romana
Os romanos eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses. A grande parte dos deuses romanos foram retirados do panteão grego, porém os nomes originais foram mudados. Muitos deuses de regiões conquistadas também foram incorporados aos cultos romanos. Os deuses eram antropomórficos, ou seja, possuíam características ( qualidades e defeitos ) de seres humanos, além de serem representados em forma humana. Além dos deuses principais, os romanos cultuavam também os deuses lares e penates. Estes deuses eram cultuados dentro das casas e protegiam a família.
Principais deuses romanos : Júpiter, Juno, Apolo, Marte, Diana, Vênus, Ceres e Baco.

Crise e decadência do Império Romano
Por volta do século III, o império romano passava por uma enorme crise econômica e política. A corrupção dentro do governo e os gastos com luxo retiraram recursos para o investimento no exército romano. Com o fim das conquistas territoriais, diminuiu o número de escravos, provocando uma queda na produção agrícola. Na mesma proporção, caia o pagamento de tributos originados das províncias.
Em crise e com o exército enfraquecido, as fronteiras ficavam a cada dia mais desprotegidas. Muitos soldados, sem receber salário, deixavam suas obrigações militares.
Os povos germânicos, tratados como bárbaros pelos romanos, estavam forçando a penetração pelas fronteiras do norte do império. No ano de 395, o imperador Teodósio resolve dividir o império em: Império Romano do Ocidente, com capital em Roma e Império Romano do Oriente (Império Bizantino), com capital em Constantinopla.
Em 476, chega ao fim o Império Romano do Ocidente, após a invasão de diversos povos bárbaros, entre eles, visigodos, vândalos, burgúndios, suevos, saxões, ostrogodos, hunos etc. Era o fim da Antiguidade e início de uma nova época chamada de Idade Média.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

GRÉCIA ANTIGA

1º BimestreA Grécia antiga começava no sul do Monte Olimpo, ao sul dos Bálcans. Ao norte do Golfo de Corinto, fica a Grécia Continental, ao sul, a Grécia Peninsular. Existe ainda a Grécia Insular, formada pelas ilhas do Mar Egeu.
A Grécia continental é montanhosa, com planícies férteis isoladas. O relevo explica o surgimento de Estados locais, pois as comunicações eram difíceis. Já na Grécia peninsular, de litoral recortado por golfos e baías, navegava-se facilmente de um ponto a outro da costa. Na Grécia insular, as numerosas ilhas permitiam a navegação com terra sempre à vista, o que era fundamental numa época de técnica naval precária.
Esses condicionamentos geográficos explicam a tendência grega de integração com exterior, mais do que com o interior.

O Povoamento

Os gregos ou helenos (de Hélade, primitivo nome da Grécia) são de origem indo-européia. Os indo-europeus ou arianos, começaram chegar à Grécia por volta de 2.000 a.C.
Primeiro os Aqueus, com seus rebanhos, ocupando as melhores terras e tornando-se sedentários, tendo assimilado povos mais antigos, os pelágios, ou pelasgos, provavelmente de origem mediterrânea, que se encontravam no estágio neolítico. Formaram centros urbanos como Micenas, Tirinto e Argos. Os habitantes de Micenas entraram em contato com a Ilha de Creta, onde havia uma civilização avançada. Ambas as culturas se integraram e desenvolveram a civilização creto-micênica.
Por volta de 1.700 a.C., os núcleos arianos na Grécia foram fortalecidos com a chegada de novos grupos arianos: os jônios e os eólios. A integração foi pacífica e nessa época, a civilização creto-mic6enica chagava ao auge.
Havia o domínio cretense do Mar Egeu e os aqueus aprenderam com eles técnicas agrícolas, navais e valores religiosos. Acabaram superando os mestres, destruindo-os por volta de 1.400 a.C., estendendo então suas atividades comerciais e piratas até as costas da Ásia Menor, na "Rota do Peixe Seco e do Trigo",, nas proximidades do Mar Negro(ponto Euxino).
No início do século XII a.C., os Gregos destruíram TRÓIA (Ílion, em Grego), cidade que ocupava posição estratégica nos estreitos, entre o Egeu e o Negro. Isto lhes deu o controle do tráfico marítimo na região.
A civilização micênica expandia-se em direção à Ásia, quando chegaram os Dórios, último grupo de povos arianos a penetrar na Grécia. Mais aguerridos, nômades ainda, conhecedores de armas de fogo, os dórios arrasaram as cidades gregas, resultando numa fuga da população para o interior ou para o exterior. Os gregos com isso fundaram inúmeras colônias nas costas da Ásia Menor e em outros lugares do Mediterrâneo, o que se constituiu na primeira diáspora grega, marcando um novo período na história da Grécia. Houve uma certa regressão, com o desaparecimento da vida urbana e a organização do povo em pequenas comunidades onde a célula básica era a grande família, ou GENOS. Alguns historiadores chamam a este período de Idade Média Grega.

Grécia: O Período Homérico
O período se chama homérico porque seu estudo se baseia em duas obras atribuídas a Homero: a Ilíada e a Odisséia. A Ilíada marca a tomada de Tróia pelos gregos, com a concentração do autor no herói Aquiles, com sua cólera contra Agamenon, que lhe roubou a escrava Briseida. No início, Aquiles nega-se a lutar, mas a morte de seu amigo Patroclo o faz mudar de idéia.. Uma parte importante da Ilíada descreve o cavalo de madeira com o qual os gregos "presenteiam" os troianos para tomar sua cidade.
Quanto à Odisséia, sua maior parte descreve o retorno do guerreiro Ulisses ao Reino de Ítaca. Mas a obra ocupa-se de três temas fundamentais: a viagem de Telêmaco, as viagens de Ulisses e o massacre dos pretendentes de sua mulher, Penélope. Ilíada e Odisséia possuem diferenças claras no vocabulário e no estilo, apesar de serem atribuídas ao mesmo autor. Na Ilíada não se menciona o uso do ferro; na Odisséia há referências constantes ao metal: calcula-se um intervalo de 50 anos entre uma obra e outra: a Ilíada no fim do século IX a.C.; a odisséia em meados do século VIII a.C. Provavelmente aquela seria obra de um poeta jônico e esta última, de um poeta das ilhas. Além disso, as obras sofreram alterações dos aedos, poetas que transmitiam os poemas oralmente, através das gerações. Ambas as obras só ganharam forma escrita no século VI a.C., em Atenas, durante o governo do tirano Psistrato.

O Sistema Gentílico
A célula básica da sociedade grega após o século XII a.C. era o genos, uma grande família, com todos os descendentes de um mesmo antepassado vivendo no mesmo lar. Cada membro (gens) dependia da unidade da família, que por sua vez era chefiada pelo pater-familias, que passava o poder ao filho mais velho; tinha seu culto aos antepassados; sua própria justiça, baseada no costume. A economia consistia na administração da casa, conforme indica a própria origem da palavra: uma casa. A família oeconomia, arte de administrar era como uma autarquia, isto é, uma organização fechada, auto-suficiente.
Os bens produzidos, assim como os instrumentos e a propriedade, eram coletivos e não podiam ser vendidos, transferidos ou divididos. O trabalho também era coletivo e a família expulsava quem se recusasse a trabalhar. A produção era distribuída igualitariamente, o que impedia a diferenciação econômica entre os membros dos genos. Ocasionalmente, sendo a família pouco numerosa ou inábil para algumas tarefas, usavam o trabalho de escravos ou artesãos em certas atividades.
De economia predominantemente agropastoril, coletivista social e economicamente, o genos não deixava de apresentar diferenciações individuais, pois a posição da pessoa na família dependia de seu parentesco com o pater-familias. No plano político, o poder – patriarcal – se baseava no monopólio de fórmulas secretas, que permitiam ao chefe o contato com os deuses protetores da família.

Os Genos se desintegra
O sistema gentílico estava fadado a durar pouco. O genos começou a enfrentar dificuldades de mão-de-obra suplementar, de produtos que só podiam ser cultivados em certos tipos de solo.
A transformação devia-se a dois fatores:
I. A produção não crescia proporcionalmente à população, devido às técnicas rudimentares, advindo então a queda da renda familiar, provocando descontentamento;
II. O genos passou a dividir-se em famílias menores, enfraquecendo-se; filhos mais novos e bastardos protestavam contra a vida difícil; cada um trabalhava com menos estímulo e mais exigência na divisão dos produtos. Desenvolveu-se o gosto por luxo e conforto, fortalecendo-se assim o individualismo, que trouxe a necessidade de dividir a propriedade coletiva.
Em muitas famílias, os lotes foram divididos por sorteio e, mais tarde, em razão de herança, poderiam ser novamente divididos. Começava a luta, cada vez mais violenta, pela posse da terra. Porém, o novo regime ainda não era completo, havendo exceções: nas reservas coletivas, particulares só podiam possuir as terras mais férteis; em muitas propriedades conservava-se o sistema de rodízio do lote entre os antigos membros do genos; em certas regiões, os lotes podiam ser divididos, mas não repassados para quem não tivesse pertencido ao antigo genos.
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Conseqüências da Desintegração
No plano social, aumentaram as diferenças, com grandes proprietários de terras férteis e pequenos proprietários de terras pouco férteis, além de grande número de indivíduos que perderam a propriedade, inclusive descendentes de proprietários que, depois de muitas divisões por herança, ficaram com lotes insignificantes. Estes últimos formaram uma camada marginal, errante, que vivia de míseros salários ou de esmolas. Outros se lançaram à aventura da pirataria, tendo sido os precursores do comércio marítimo. Poucos tiveram sucesso nesta última atividade; eles em geral se integraram com a aristocracia proprietária através do casamento. Coexistiam grupos de tipo patriarcal, famílias pequenas e indivíduos isolados. A propriedade coletiva subsistia ao lado da privada e até a co-propriedade.
No plano político, a desintegração gerou a passagem do poder do pater-familias para os parentes mais próximos, os eupátridas (filhos do pai), que monopolizavam os equipamentos de guerra, a justiça, o poder religioso, todo o poder político enfim. Esta camada deu origem à aristocracia grega, cujo poder resultava da posse da riqueza fundamental: a terra.
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O Desenvolvimento Urbano
Os aristocratas se uniram em fratrias (irmandades); as fratrias, em tribos. Da união de várias tribos e da aglutinação de seus vilarejos (fenômeno de cinesismo), surgiu a organização política típica da antiga Grécia: a cidade-estado (polis).
Para isso foi fundamental o rompimento da unidade do genos, do contrário, as cidades não teriam passado de associações políticas temporárias. Com a polis, passaram a construir a base da sociedade e seu elemento de união. Apresentavam características próprias: a ACRÓPLE, templo construído sobre uma elevação; a ÁGORA, praça central; e o ASTI, mercado de trocas. Ocorria a passagem da economia gentílica para a urbana, ainda impregnada de elementos da economia familiar, mas já trazendo os sinais da futura economia internacional grega.


A Colonização e seus Fatores
Na metade do século VIII a.C., os gregos iniciaram uma expansão que se prolongaria por dois séculos, chamada de segunda diáspora grega. Os fenômenos sociais que transformaram o regime antes do final do século VIII a.C. agiriam com intensidade nos séculos seguintes.
A desintegração do genos foi decisiva para a expansão grega, pois os filhos mais novos ou desfavorecidos deixavam a pátria e iam buscar uma vida mais lucrativa. Do mesmo modo, os marginalizados do poder político da polis foram lutar por maior participação em outras polis fora da Grécia.
Os colonos estabelecidos em novas terras passaram a produzir gêneros que as polis não eram capazes de prover, ao mesmo tempo que consumiam excedentes da Grécia, como vinho e azeite.
O progresso técnico também estimulou a busca do exterior: o uso da âncora e o aperfeiçoamento dos barcos, com maior capacidade de transporte. Ao mesmo tempo, o declínio do poderio fenício na Ásia facilitava a travessia dos mares.

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Áreas e Mecanismos de Colonização
Uma das primeiras áreas colonizadas foi a Trácia, nas costas da Macedônia e ao norte do Mar Egeu, região atraente pelos campos de cereais e vinhas, bem como por suas montanhas com florestas e minas de ouro e prata.
Abidos, no atual Estreito de Dardanelos, e Bizâncio (hoje Istambul) tornaram-se cidades mercantis. Ao penetrarem no Mar Negro, os gregos foram fundando em sua costa algumas cidades como Odessa, Tanais, Queroneso e outras colônias. Do Mar Negro, os gregos exportavam cereais, madeira, peixes e frutas.
Ao sul do Mediterrâneo, com o consentimento dos faraós, os gregos fundaram Naucratis, no delta do Nilo. A oeste do Egito surgiu Cirene.
Em direção ao ocidente, os gregos fundaram uma série de cidades na Itália, a partir de 750 a.C., das quais destacavam-se Sívares, Crotona e Tarento, no Golfo de Tarento; Messina e Siracusa, na Sicília; Possidônia, Nápole e Cumas, na costa do Mar Tirreno. Era a Magna Grécia. Ainda mais a oeste, os gregos se estabeleceram no sul da Gália, onde fundaram Marselha, Nice, Antibes e Mônaco. A concorrência dos fenícios, firmemente plantados em Cartago, dificultou a colonização das costas espanholas.
Posteriormente, as cidades-estado passaram a organizar a colonização, inicialmente feita ao acaso. Os colonos passaram a partir sob o comando do OIKISTE, acompanhados de sacerdotes e adivinhos. Desembarcavam, ofereciam um sacrifício e dividiam a terra em lotes, distribuídos entre os participantes da expedição. Suas relações com a metrópole eram de natureza mais cultural do que política, completando-se pelo intercâmbio econômico. O mundo grego havia se expandido por quase todo o Mediterrâneo e embora de caráter basicamente agrária, a colonização não impediu o desenvolvimento de atividades industriais e comerciais.